Com uma população estimada de 212 milhões de pessoas, o Brasil precisará de aproximadamente 425 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 para a total imunização de seus habitantes — levando-se em conta que a maior parte das mais de 250 vacinas em desenvolvimento ou já aprovadas para uso emergencial precisam de duas aplicações para garantir sua efetividade.
Mais do que um desafio de saúde pública, a definição da logística de distribuição de vacinas para uma população tão grande é o momento em que será testada com maior exigência a tradicional capacidade brasileira de imunizar sua população em relação às principais doenças prevalentes no país.
Não só o fato de levar as vacinas para os moradores de Norte a Sul do Brasil é desafiador, como também a agilidade necessária para que as doses sejam administradas no tempo recomendado pela ciência. Além disso, outras variáveis podem influenciar diretamente na logística, como a temperatura de transporte e a necessidade de escolta.
Demanda logística teve boom ainda no começo da pandemia
Apesar de a logística de distribuição de vacinas ser desafiadora, a área já vem passando por um momento de alta demanda desde 2020. Com as medidas de isolamento social, mais pessoas passaram a fazer suas compras via internet, sem sair de casa. Isso provocou um crescimento no transporte de produtos e, consequentemente, na busca por soluções de inteligência artificial e machine learning capazes de dar o devido suporte a essas atividades.
A própria demanda por suprimentos hospitalares também passou por um boom no período. De acordo com estudo publicado pela DHL, uma das gigantes da área de logística global, estima-se que a procura por máscaras faciais cresceu 100 vezes em relação ao ano anterior. As luvas cirúrgicas também tiveram aumento de demanda, com duas mil vezes mais produtos encomendados do que em 2019 por parte da Unicef.
As dores da logística de distribuição de vacinas e os 7 Rs
O estudo da DHL ainda aponta algumas dores no que diz respeito à logística de distribuição de vacinas:
Armazenagem
Capacidade de armazenamento limitada e falta de rotinas. Formatos de unidade de armazenamento abaixo do ideal e informações imprecisas sobre o produto. Falta de experiência e sofisticação no armazenamento sensível à localidade e temperatura.
Distribuição e “última milha”
Transparência limitada sobre os níveis de estoque e demanda. Planejamento de transporte e gerenciamento de transportadoras desafiadores na entrega final (“last mile” ou “última milha”).
Como podemos observar até aqui, a logística de distribuição de vacinas pode ser bastante complexa, especialmente em um país como o Brasil, de vasto território e com um transporte multifacetado — com parte da distribuição ocorrendo por via aérea, terrestre e, ainda, por meios aquáticos, para atingir as populações indígenas e ribeirinhas.
Além disso, há a necessidade de conectar uma série de elementos antes mesmo de se chegar à “última milha”: ligar o ponto de fabricação ao de distribuição, o de distribuição aos postos de saúde e hospitais, até que, enfim, as vacinas cheguem às pessoas.
Você pode estar argumentando: “O Brasil tem tradição na distribuição de vacinas, tendo conseguido erradicar uma série de doenças ao longo das décadas. Por que agora é diferente?”. Em função da pandemia, a demanda pelas vacinas não é só nacional e a gravidade da situação exige uma eficiência e agilidade acima da média. É aí que a inteligência artificial e o machine learning podem fazer a diferença.
Variáveis que impactam o setor de logística na saúde
Além da já mencionada extensão territorial, há outras variáveis que impactam o processo de logística de distribuição da vacina contra o COVID-19 no Brasil. Logística internacional? Onde armazená-las? Qual a capacidade de armazenamento desses locais? Quais as melhores rotas de distribuição? Qual sua capacidade? Essas questões precisam ser devidamente analisadas antes de o processo começar a ocorrer na prática, e as ferramentas de analytics estão aí para dar esse suporte.
Mais adiante, já em uma fase de planejamento otimizado, a inteligência artificial dá sua contribuição em nível tático e operacional. A partir das demandas diárias e semanais de cada localidade, qual a quantidade de vacinas que devem ser movimentadas dos centros de distribuição para os postos de saúde? Entre os fatores a serem considerados estão a disponibilidade de armazenamento nos postos, a viabilidade de escolta para esse transporte, a capacidade de vacinação por hora e por dia, entre outros detalhes mais minuciosos.
Benefícios do uso de ferramentas analíticas e inteligência artificial na logística de distribuição de vacinas
O uso da inteligência artificial na saúde já se mostrou benéfico antes, e também tem grande potencial na logística de distribuição de vacinas. As ferramentas podem indicar os melhores centros de distribuição e a malha logística para transporte dentro do prazo de conservação de temperatura e armazenagem necessários.
Além disso, elas podem auxiliar evitando aglomerações (ou seja, um grande fluxo de pessoas onde não há capacidade para recebê-las simultaneamente) e estoques parados ou excesso de vacinas em determinados pontos da cadeia de distribuição, oferecendo melhor aproveitamento da quantidade de doses disponíveis e, é claro, reduzindo o custo logístico.
Apesar de o Brasil ter muito conhecimento e ser referência mundial em vacinação em larga escala e extensão territorial, em função da pandemia a logística da vacina contra o COVID-19 é um problema extremamente complexo, com muitas variáveis.
No entanto, a inteligência artificial pode ajudar a fazer isso de forma muito mais rápida e considerar fatores que podem estar sendo deixados de lado, caso o plano seja feito manualmente.
Outra grande vantagem é que com a IA, rapidamente se consegue rodar novos cenários, caso surjam mudanças ou imprevistos no planejamento. Assim, há mais agilidade na busca por uma nova solução viável, o que pode levar dias se feito de forma tradicional. Em uma situação de pandemia, a rapidez é fundamental, pois pode ajudar a salvar vidas.
Espero que tenha apreciado o conteúdo sobre a logística de distribuição de vacinas! Mas não esqueça que o uso de inteligência artificial na saúde também é altamente recomendado em outras áreas, como na indústria farmacêutica. E o machine learning também pode ser aplicado no segmento.
Leia este artigo no qual falamos a respeito do uso do ML na prevenção de doenças.
*Michel Duran é Gerente de Marketing e Vendas da UniSoma
É Bacharel em Matemática Aplicada e Computacional pela Unicamp e possui MBA em Gestão de Empresas pela ESPM.